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Não sei seu nome. Tampouco sei se o verei novamente. Ele vendia cocadas caseiras. Eu aguardava com curiosidade, e um sorriso discreto nos lábios, enquanto o ônibus parava no mesmo local, e ele entrava modesto e sorridente. As luzes apagadas do ônibus acendiam. As pessoas olhavam com interesse para a bandeja que ele carregava no antebraço, sem saber que na verdade, era para ele que olhavam. As cocadas vinham em plásticos transparentes muito finos e brilhantes, separadas pelas opções de sabores: côco natural, leite condensado, côco queimado, e outros sabores. Eu olhava pela janela, enquanto pensava "por que justo eu não gosto de cocadas". Eu contava silenciosamente quantas fileiras ainda faltavam para que ele chegasse ao meu lado com voz tão doce: "Com licença, senhorita, gostaria de levar umas cocadas caseiras?" Já cansada de dizer não, e talvez, remorsiada também, mesmo falando mui educadamente, um dia disse sim, e comprei uma cocada de leite condensado. Acho que dei a cocada para alguém que gostou muito, mas isso não é o que importa. O que importa é que aquele vendedor de cocadas, penso eu, está no lugar errado. Deveria estar onde realmente dão valor às rosas que ele traz nas mãos, na voz, na atitude, no gesto cavalheiro e cortês. Sempre torci para que ele, num dia qualquer, esteja sentado no mesmo ônibus, usufruindo de suas cadeiras acolchoadas, talvez quase dormindo, com um sorriso nos lábios, cansado por mais um dia de trabalho numa empresa...sua, talvez. E eu terei muito prazer em dizer, ao sentar na poltrona ao lado: "Com licença, senhor, importa-se que eu sente aqui?" E passaremos a viagem em silêncio completo, cada um com seu sorriso próprio de satisfação: eu, lendo algum artigo numa revista, e ele, descansando enquanto olha pela janela, sem saber que sorrio por dois...