segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Pétalas da vida 7: Ledo engano...

Ingrid sorria, contentíssima. Um CD da banda preferida. E um par divertido de brincos. Surpreendia-se. Já fazia um tempinho que não ganhava presentes. Foi para casa animada, escutou todas as músicas, elegeu suas preferidas, e passou a usar azul quase todos os dias porque combinava com o brinco. O tempo passa brincando e rindo de todo mundo, e ria dela também, com certeza. Mostrou de uma forma surpreendente também outra pessoa com o mesmo brinco. Num almoço animado, entre risos, Ingrid observou num relance que essa pessoa sorria alegremente ao lado de quem lhe deu o presente. A cena congelou diante dos olhos de Ingrid, e ela só conseguia imaginar como alguém conseguia ter tão pouca criatividade diante de um mundo tão pequeno, onde os menores detalhes aparecem ampliados num momento oportuno. Decidiu não usar mais os brincos. Odiava o fato de não ter exclusividade. É claro que poderia haver várias mulheres no mundo com aquele mesmo brinco azul, mas não oferecido pelas mesmas mãos indecisas. O doce virara azedo.
Quase uma década depois, Ingrid se encontrava num cenário semelhante: encontrava, por acaso, uma carta de amor endereçada a outra pessoa. Lia cada palavra atentamente, pelo fato do escritor ter sido outrora seu amor. Sentia-se feliz por ter recebido do acaso esse momento, e ao mesmo tempo, confusa por saber que as palavras não eram direcionadas a ela. Gravou em sua mente as frases mais importantes, e recitava-as sozinha, analisando frase por frase. Culpava-se por não ser a musa inspiradora daquelas palavras. Perguntava-se em que havia errado. Encontrava milhares de erros possíveis em si mesma. Questionava sua própria personalidade. Depois da pior fase da ressaca emocional, divertia-se no computador, conversando com amigas e organizando os e-mails. Foi por um triz que o tempo não voltou: quase uma lágrima descia de seus olhos, enquanto relia essa antiga carta, cuidadosamente salva. Mas foi apenas um "quase", porque, sem explicação alguma, lembrou-se de um amigo do escritor, duvidando e rindo-se das palavras amorosas contidas ali. Rapidamente entrou em um site de busca e digitou um trecho da carta de amor aparentemente tão sincera. Teve vontade de chorar, mas as lágrimas não desceram; veio de dentro um riso tão grande, um riso que lava e joga fora as impurezas das pobres dúvidas sobre si mesma. Ingrid riu o riso grande, o riso contido em volume, porque já era tarde, mas grande em significado. Percebendo a semelhança entre as revelações que o casalzinho tempo e vida lhe faziam, sentiu-se tão leve. Agradeceu por não ter sido a musa inspiradora daquelas palavras, já que não conhecia mesmo o verdadeiro escritor. Continuava gostando de exclusividade, e não queria receber palavras copiadas também usadas por outros para outras pessoas. Não queria brincos azuis iguais. E sorriu ao lembrar de que aquilo justificava a ausência dos erros de português do escritor, tão comum nas cartas verdadeiramente sinceras, escritas a mão, com palavras vindas diretamente do coração, seja lá como ele fosse, endereçadas a ela nos tempos em que ele não gostava de digitar. Sentiu-se grande novamente, sentiu-se forte, e um tanto envergonhada por ter algum dia duvidado de sua própria capacidade de amar. Omitiu esse fato da musa atual do escritor, porque não sabia se ela contentava-se com isso. Mas o importante era que Ingrid não se contentaria. Odiava brincos azuis repetidos e palavras que não vêm do coração.


4 comentários:

Luci disse...

Concordo com Ingrid rsrs..
O bom mesmo eh ser unica...

Saudades de vc flor.
Beijo

. disse...

Ô, como é bom, kkkk.

Beijos e pétalas.

Maristeanne disse...

...
não é turquesa todo azul...

tudo bem =) sorriu... sorris...
___

obrigada por essas conto "pétalas da vida" em forma de postal.

(a)braços,flores,girassóis..(::)

. disse...

O da Ingrid, por exemplo, não era. Era azul falso, era azul cinza. Porque as coisas realmente turquesas da vida, a gente reconhece, kkkk. E sorrimos, anyway.
Sempre ótimo te ver aqui!

Beijos e pétalas.